A PRÁTICA EDUCATIVA


Algumas das idéias expostas no texto abaixo, possam subsidiar uma discussão sobre o ensino médio ter 20% da sua carga horária à distância.


A PRÁTICA EDUCATIVA

A partir das idéias de Antoni Zabala e César Coll


A finalidade da escola é promover a formação integral dos alunos. Para tal deve existir uma reflexão profunda e permanente da condição de cidadania dos alunos e da sociedade em que vivem e consequentemente acerca da finalidade da educação escolarizada. Isso possibilitará à escola ir mais além do que o enfatizar do aspecto cognitivo. Isso se consegue pelo estabelecer de vínculos com os outros e pela definição das concepções pessoais sobre si e os demais, através das relações construídas a partir das experiências vivienciadas.

Para Zabala, aprender não é apenas copiar ou reproduzir a realidade. Significa integrar conhecimentos já existentes aos novos, modificando-os e estabelecendo relações. De acordo com os seus pressupostos, as relações que se estabelecem entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo ensino e aprendizagem, se sobrepõem às seqüências didáticas, visto que o professor e os alunos possuem certo grau de participação nesse processo, diferente do ensino tradicional, caracterizado pela transmissão/recepção e reprodução de conhecimentos. A partir do conceito de aprendizagem construtivista, Zabala (1998) classificou a aprendizagem em diversos tipos ou níveis, tendo como base desta classificação três grandes pilares: conhecimentos, habilidades e valores. Conhecer os diferentes tipos de aprendizagem permite ao educador, ter uma visão mais ampla e completa no que diz respeito ao processo de aprendizado de seus alunos e o ajuda a proporcionar momentos e atividades em sala de aula que visem uma formação mais integra de seus aprendizes. Sobre os conteúdos da aprendizagem, seus significados são ampliados para além da questão do que ensinar, encontrando sentido na indagação sobre por que ensinar. Desse modo, acabam por envolver os objetivos educacionais, definindo suas ações no âmbito concreto do ambiente de aula. Esses conteúdos assumem o papel de envolver todas as dimensões da pessoa, caracterizando as seguintes tipologias de aprendizagem: factual e conceitual (o que se deve aprender?), procedimental (o que se deve fazer?), e atitudinal (como se deve ser?).

Os conteúdos conceituais estão relacionados com conceitos propriamente ditos e dele ramifica-se os conteúdos factuais, ou seja, os conhecimentos relacionados aos fatos, acontecimentos, dados, nomes e códigos. Os conteúdos conceituais são mais abstratos, eles demandam compreensão, reflexão, analise comparação. As condições necessárias para a aprendizagem dos conteúdos conceituais demandam atividades que desencadeiem um processo de construção pessoal, que privilegie atividades experimentais que acionem os conhecimentos prévios dos alunos promovendo atividade mental. Para tanto, as aulas meramente expositivas que lance mão apenas da memorização, não darão conta.

Os conteúdos conceituais podem ser associados de acordo com Elizabeth Fantauzzi à dimensão cognitiva - ligada ao saber, proposta por Benjamin Bloom.


Os conteúdos procedimentais envolvem ações ordenadas com um fim, ou seja, direcionadas para realização de um objetivo, aquilo que se aprende a fazer, fazendo, como: saltar, escrever com letra cursiva, desenhar, cozinhar, dirigir-podem ser chamados de regras, técnicas métodos, destrezas ou habilidades. Como afirma Zabala (1998), “um conteúdo procedimental – que inclui entre outras coisas as regras, as técnicas, os métodos, as destrezas ou habilidades, as estratégias, os procedimentos – é um conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a realização de um objetivo. São conteúdos procedimentais: ler, desenhar, observar, calcular, classificar, traduzir, recortar, saltar, espetar etc.” (p.43).

Os conteúdos procedimentais podem ser associados de acordo com Elizabeth Fantauzzi à dimensão psicomotora - ligada às ações físicas, proposta por Benjamin Bloom.

Os conteúdos atitudinais podem ser agrupados em: valores, atitudes ou normas. Dentre esses conteúdos podemos destacar a título de exemplo: a cooperação, solidariedade, trabalho em grupo, gosto pela leitura, respeito, ética. Vale ainda salientar que esses conteúdos estão impregnados nas relações afetivas e de conivência que de forma alguma podem ser desconsiderados pela escola como conteúdos importantes de serem trabalhados.

Os conteúdos atitudionais podem ser associados de acordo com Elizabeth Fantauzzi à dimensão afetiva - ligada a posturas e sentimentos, proposta por Benjamin Bloom.

Sintetizando Coll (1997) propõe que os conteúdos:

Factuais e Conceituais - que correspondem ao compromisso científico da escola: transmitir o conhecimento socialmente produzido.
Atitudinais - (normas e valores)- que correspondem ao compromisso filosófico da escola: promover aspectos que nos completam como seres humanos, que dão uma dimensão maior, que dão razão e sentido para o conhecimento científico.
Procedimentais - que são os objetivos, resultados e meios para alcançá-los, articulados por ações, passos ou procedimentos a serem implementados e aprendidos.


Associadss a esses conteúdos estão algumas de acordo com Coll (1997) "atividades de aprendizagem".




A organização curricular tem sido orientada para uma divisão em disciplinas. Para Zabala (1998, p. 141), “tradicionalmente os conteúdos foram classificados conforme o critério de pertencimento a uma disciplina, cadeira ou matéria, decorrendo disso os referenciais para a organização dos conteúdos”. “O processo de progressiva parcialização dos conteúdos escolares em áreas de conhecimento ou disciplinas conduziu o ensino a uma situação que obriga a sua revisão radical, a evolução de um saber unitário para uma diversificação em múltiplos campos científicos notavelmente desconectados uns dos outros levou também à necessidade de busca por modelos que compensem essa dispersão do saber”. ZABALA (2002, p. 24). Nos últimos anos é cada vez mais comum encontrarmos propostas que rompem com a organização por unidades centradas exclusivamente em disciplinas; o autor chamou tais métodos de globalizadores. O enfoque globalizador de ensino Zabala, (2002), propõe uma diferente maneira de organizar as disciplinas, os conteúdos escolares para a prática pedagógica. “Na prática de sala de aula, o enfoque globalizador representa que, seja qual for a disciplina que se trabalhe, seja qual for o conteúdo que se queira ensinar, sempre devem apresentar-se em uma situação mais ou menos próxima da realidade do estudante e em toda a sua complexidade, mostrando que, entre todos os problemas que a realidade coloca serão destacados, aqueles (ou aquele) que convêm ser tratados por razões didáticas”. (ZABALA, 2002, p.38).

Os métodos globalizados de ensino influênciaram várias teorias de aprendizagem, entre elas Zabala considera, pela sua importância histórica: os centro de interesse de Decroly; os métodos de projetos de Kilpatrick; a investigação do meio do MCE (Movimento de Cooperazione Educativa de Itália) e os projetos de trabalho globais. Estes métodos são preciosos para auxiliar a elaborar propostas curriculares de ensino integradas.

Sobre os métodos citados Zabala, (2002, p. 197), esclarece que:

● Centros de interesse de Decroly: que partem deum núcleo temático motivador integrando asdiferentes áreas do conhecimento. A cr iança é oponto de partida; observam-se suas diferençasindividuais, respeita-se a sua personalidade, elaé educada para a vida, o aluno inventa, experi-menta. A alavanca é o interesse.
● Métodos de projetos de Kilpat rick: que parte daelaboração de algum objeto ou montagem (má-quina, horta, jornal etc.). Incorpora a educaçãoà experiência do aluno, seus interesses pessoais eimpulsos. A escola deve ensinar a pensar e a atuar;portanto, os programas têm que ser abertos.
● Estudo do meio: quer que os alunos construamo conhecimento por meio da seqüência dométodo científico, isto é, problema, hipótese,experimentação.
● Projetos de trabalhos globais: para se conhecerum tema, é preciso fazer um dossiê ou mono-grafia resultante de uma pesquisa individual ouem g rupo.

No que diz respeito aos métodos de globalizadores, apresenta-se abaixo um quadro de síntese:





Sobre a concepção de aprendizagem, não é possível ensinar sem uma referência ao modo como os alunos aprendem, especialmente no que diz respeito às particularidades dos processos de aprendizagem de cada aluno (diversidade).


O professor possui uma série de funções nessas relações interativas: o planejamento e a plasticidade na aplicação desse plano, o que permite uma adaptação às necessidades dos alunos; levar em conta as contribuições dos alunos no início e durante as atividades; auxiliá-los a encontrar sentido no que fazem, comunicando objetivos, levando-os a enxergar os processos e o que se espera deles; estabelecer metas alcançáveis; oferecer ajuda adequada no processo de construção do aluno; promover o estabelecimento de relações com o novo conteúdo apresentado e exigir dos alunos análise, síntese e avaliação do trabalho; estabelecer um ambiente e relações que facilitem a auto-estima e o autoconceito; promover canais de comunicação entre professor/aluno, aluno/aluno; potencializar a autonomia, possibilitando a metacognição e avaliar o aluno conforme sua capacidade e esforço.

No que diz respeito à análise das diferentes formas de organização social dos alunos vivenciadas na escola e à sua relação com o processo de aprendizagem, todo tipo de organização grupal dos alunos, assim como todas as atividades a serem programadas/desenvolvidas pela escola e a própria forma de gestão que esta emprega, devem levar em consideração os tipos de aprendizagens que estão proporcionando a seus alunos e os objetivos expressos pela própria escola. Desse modo, inconscientemente a instituição escolar, ao não refletir sobre esses aspectos, pode acabar por desenvolver uma aprendizagem inversa àquilo que apregoa. Os professores deverão reflitir sobre a importância de organizar o grupo de alunos, levando em consideração o tipo de aprendizagem e conteúdo que esperam desenvolver nestes, percebendo que a organização social da classe tem relação direta com a aprendizagem.

Materiais curriculares são os instrumentos que proporcionam referências e critérios para tomar decisões no planejamento, na intervenção direta no processo de ensino/aprendizagem e em sua avaliação. São meios que ajudam os professores a responder aos problemas concretos que as diferentes fases dos processos de planejamento, execução e avaliação lhes apresentam. Na relação entre os materiais curriculares e a dimensão dos conteúdos, temos: para os conteúdos conceituais, quadro negro, audiovisuais e livros didáticos; para os conteúdos procedimentais, textos, dados estatísticos, revistas, jornais; para os conteúdos atitudinais, vídeos e textos que estimulem o debate. Todos os materiais curriculares utilizados por professores e alunos são veiculadores de mensagens e atuam como transmissores de determinadas visões da sociedade, da história e da cultura, devendo ser analisados a sua dependência ideológica e o modelo de aula a que induzem.

A interdisciplinaridade "é essencial, se desejamos compreender os problemas mais importantes de nosso tempo e realizar investigações nesse sentido. É necessária uma cooperação interdisciplinar em numerosos âmbitos de investigação relativos ao meio e aos recursos naturais, à guerra e à paz, aos problemas das comunidades, ao urbanismo, ao tempo livre e às atividades culturais. Assim, no âmbito teórico e metodológico, assistimos a um inegável interesse pelos problemas e pelos métodos gerais, que dependem de mais de uma disciplina”. (ZABALA 2002 p.26). “A transdisciplinaridade é o grau máximo de relações entre disciplinas, de modo que chega a ser uma integração global dentro de um sistema totalizador. Esse sistema facilita uma unidade interpretativa, com o objetivo de constituir uma ciência que explique a realidade sem fragmentações” (ZABALA, 2002).


A avaliação deve ir além apenas do aluno como sujeito que aprende e envolver também uma avaliação de como o professor ensina. "Sim, todos merecem ser avaliados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas", afirma Antoni Zabala. "É essencial atender à diversidade dos estudantes." A avaliação deve incluir uma avaliação inicial, reguladora (esse termo é preferido em vez de formativa, pois entende-se que explica melhor as características de adaptação e adequação, ou seja, é capaz de acompanhar o progresso do ensino), final e integradora. O avaliar envolve fatos, conceitos, procedimentos e atitudes.

1 .Avaliação dos Conteúdos Conceituais

A aprendizagem dos Conteúdos Conceituais envolve a abordagem de conceitos, fatos e princípios que possam conduzir o aluno à representação da realidade, operando através de símbolos, idéias, signos e imagens. Para isso, o aluno precisa adquirir informações e vivenciar situações-problema que lhe permitam a aproximação de novos conhecimentos, que o conduzam à construção de generalizações parciais e que, ao longo de suas experiências, possibilitar-lhe-ão a elaboração de conceitos mais abrangentes.

2 -Avaliação dos Conteúdos Procedimentais

Os Conteúdos Procedimentais devem proporcionar aos alunos autonomia para analisar e criticar os resultados obtidos e os processos colocados em ação para atingir as metas a que se propõem nas atividades escolares.
A consideração dos Conteúdos Procedimentais no processo de ensino é de fundamental importância, uma vez que permite incluir conhecimentos que têm sido tradicionalmente excluídos do ensino, como documentação, organização, comparação dos dados, argumentação, verificação, revisão de textos escritos, dentre outros tantos e inumeráveis fatores.

3. Avaliação dos Conteúdos Atitudinais

Os Conteúdos Atitudinais desenvolvem normas e valores que permeiam todas as ações educativas. A não compreensão desses valores pelos educadores conduz os educandos à aquisição de conhecimentos que não favorecem a formação de boas atitudes, restringindo o conhecimento apenas ao âmbito puramente conceitual. Nesses conteúdos é possível e necessário identificar as dimensões procedimentais, atitudinais e conceituais, com a finalidade de que o processo de ensino e aprendizagem não se restrinja ao módico processo de reprodução das coisas.

Apresenta-se como exemplo de avaliação dentro destas três dimensões acima citadas, uma situação que envolve a temática de poluição ambiental:

A. Conteúdos Conceituais:
- Detectar os tipos de poluição que prejudicam o meio ambiente;
- Identificar as causas que provocam a poluição;
- Identificar o tempo de desgaste dos materiais poluentes;
- Analisar as conseqüências.

B. Conteúdos Procedimentais:
- Desenvolver pesquisas sobre o tema e compartilhar as informações coletivamente;
- Observar às causas e interferir nos efeitos da poluição;
- Aprender formas de aproximar-se de informação para verificar hipótese.
C. Conteúdos Atitudinais:
- Conscientizar-se da importância de se preservar o meio ambiente;
- Utilizar diferentes fontes de informações, como forma de combate à poluição;
- Sentir-se parte integrante e ser responsável pela qualidade do meio em que vive.

Fontes:

BATTEZZAT. Silma Côrtes da Costa. O enfoque Globalizador de Ensino e os Métodos Globalizados: por uma organização curricular integrada entre as disciplinas acadêmicas, os conteúdos escolares, a prática pedagógica e os uso das novas tecnologias da comunicação na comunicação superior. Revista: e-learning Brasil. São Caetano do Sul - São Paulo - Brasil. p. 01-17- nov.2002. ISSN-1678-0728- http://www.elearningbrasil.com.br/
DIRETORIA DE ENSINO DA REGIÃO DE BRAGANÇA PAULISTA. Conteúdos: como se aprende. Disponível: Acessado em 26 nov. 2008.
COLL, César. O Construtivismo na sala de aula. Ática, São Paulo, 1998
FANTAUZZI, Elizabeth. Em tempos de Taxonomias... Disponível: Acessado em 26 nov. 2008.
OLIVEIRA, Éder Marinho de. PASSERINO, Liliana M. Uma Arquitetura Pedagógica baseada na diversidade de estratégias de ensino: proposta para o ensino técnico em informática. Disponível em:<http://www.cinted.ufrgs.br/renote/dez2006/artigosrenote/25122.pdf> Acessado em 26 nov. 2008.
ZABALA, Antoni. A prática educativa Porto Alegra: Artmed, 1998.
ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo. Porto Alegra: Artmed, 2002.
RESENHA DO LIVRO A PRÁTICA EDUCATIVA - ANTONI ZABALA elaborada por S. C. DARIDO,; L. A. FERREIRA,; Z. GALVÃO,; G. H. PONTES,; G. N. S. RAMOS,; I. C. A. RANGEL,; L. H. RODRIGUES,; L. SANCHES NETO,; E. V. M. SILVA

Postado por João José Saraiva da Fonseca em 26 de novembro de 2008

Comentários

Nanda Lovely disse…
Excelente material! Obrigada por compartilhar!

Att,
Fernanda

Postagens mais visitadas

O que é Planejamento Participativo?

A relação da Escola com a Comunidade: uma análise do partenariado necessário.

A construção do conhecimento na visão de Paulo Freire

Mapas conceituais