1 - O que se entende por competência?

Olá amigos estou disponibilizando um texto elaborado por João José Saraiva da Fonseca, sobre o que se entende por competência.



1 - O que se entende por competência?


O paradigma de educação, baseado no conceito de competência, desloca o foco do trabalho do professor – ensinar – para a capacidade intelectual do aluno – aprender. Do que que vai ser ensinado, para aquilo que é preciso aprender para um agir social presente e futuro.

As concepções atuais de competência propõe que as capacidades pretendidas pertencem ao saber-fazer mais do que aos saberes, e os processos metacognitivos mais do que ao domínio dos saberes estabilizados.

No Brasil, essa abordagem passou a ser amplamente divulgada no final da década de 90 do século passado, sendo notadamente aceitas as concepções do sociólogo Philippe Perrenoud (1999), cuja proposta diz respeito à mobilização dos saberes escolares dentro e fora dela. Para isso, faz-se necessário que se propicie ao aluno vivenciar situações reais para poderem desenvolver suas competências.

Dentro dessa perspectiva, as Referências Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico – SETEC/MEC, (2000, p. 7), explicitam: “As competências, enquanto ações e operações mentais, articulam os conhecimentos (o “saber” as informações articuladas operatoriamente), as habilidades (psicomotoras, ou seja, o “saber fazer”. Elaborado cognitivamente e socioafetivamente) e os valores, as atitudes (o “saber ser”, as predisposições para decisões e ações, construídas a partir de referenciais estéticos, políticos e éticos) constituídos de forma articulada e mobilizados em realizações profissionais com padrões de qualidade requeridos, normal ou distintivamente, das produções de uma área profissional”.


A partir do que foi afirmado, falar de competências, implica numa reflexão prévia sobre alguns questionamento: Qual a idéia que temos de competência na educação? O modo como desenvolvemos nosso trabalho atende às necessidade de formação dessas competências? Que alunos queremos formar? Que educação queremos construir?




1.1. Competências do Homem em diferentes contextos socioculturais

As competências exigidas ao Homem são idênticas em todos os âmbientes em que ele se movimenta?

Os seres humanos não vivem todos, as mesmas situações. Por exemplo, viver nas cidades, exige estar adaptado a esse mundo e para tal dominar um conjunto de conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes, que Philippe Perrenoud (1980) apelida de competências. Essas competências são diferentes, por exemplo, das exigidas para viver no campo.






Figura 1 - Localizar-se numa cidade desconhecida, mobiliza as capacidades de ler um mapa, pedir informações; mais os saberes de referências geográficas e de escala.

1.2. Competências desenvolvidas pelo Homem
Joao Jose Saraiva da Fonseca

Joao Jose Saraiva da Fonseca

Que competências o Homem desenvolve ao longo de sua vida?

As competências, que o Homem desenvolve ao longo da sua vida, podem, de um modo geral, ser incluídas em três grupos

Competências básicas -

Estão relacionadas fundamentalmente com a capacidade de "aprender a aprender", com a qual o sujeito constroi as bases da sua aprendizage e envolvem, por exemplo: o interpretar; a comunicação oral e escrita; o trabalho em equipe; a resolução de problemas;

Competências pessoais -

Possibilitam realizar com êxito as diferentes funções da vida, tais como: confiança em si mesmo; curiosidade; domínio emocional; argumentação crítica; capacidade analítica;

Competências profissionais -

Relacionadas com o exercício profissional, associam as competências básicas e professionais enquanto fatores críticos para o exito profissional envolvendo a dimensão escola e estra-escolar.


1.3. Conceito de competência

Quais os elementos principais que integram o conceito de competência?

Nem sempre é fácil precisar o conceito de competência. De acordo com o domínio em que o termo é utilizado, assim é possível associar nuances no conceito de competência. No quadro 1, apresentam-se algumas situações de uso do termo competência, em vários contextos sociais e laborais.

Situação 1 -

USO

1 - Competência como autoridade

EXEMPLO

O administrador tem a competência para avaliar o desempenho dos funcionários ...

Situação 2 -

USO

2 - Competência como capacidade

EXEMPLO

O assumir de um cargo no âmbito das relações internacionais requer uma elevada fluência em inglês e você tem a competência necessária ...

Situação 3 -

USO

3 - Competência como função laborar

EXEMPLO

O administrador como competências representar a empresa, estabelecer acordos de parceria, ...

Situação 4 -

USO

4 - Competência como idoneidade

EXEMPLO

Os serviços de atendimento ao público, têm uma elevada competência devido ao bom atendimento que prestam aos clientes.

Situação 5 -

USO

5 - A competência enquanto rivalidade empresarial

EXEMPLO

A empresa abriu novo mercado na China, devido à modernização do sistema de produção.

Situação 6 -

USO

6 - A competência enquanto competição entre pessoas

EXEMPLO

Os funcionários desta concessionária, estão competindo para ganhar o prêmio de melhor representante do Brasil.

Situação 7 -

USO

7 - A competência enquanto requisito para desempenhar um cargo de trabalho

EXEMPLO

A indústria está requerendo pessoal com as seguintes competências.



Em educação, competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos - conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes - visando abordar e solucionar com pertinência e eficácia uma determinada situação. (PERRENOUD, 1980).




É importante destacar aqui o termo mobilizar. A competência não é o uso estático de regras aprendidas, mas uma capacidade de utilizar os mais variados recursos, de forma criativa e inovadora, no momento e do modo necessário.

Joao Jose Saraiva da Fonseca

Joao Jose Saraiva da Fonseca


A noção de competência aparece assim associada a afirmações como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber engajar-se, assumir responsabilidades, ter visão estratégica.







(FLEURY e FLEURY, 2001)


Para aprofundar a reflexão sobre o conceito de "competência" propomos que assista ao vídeo.




Ainda trabalhando a compreensão do conceito de competência, propomos a análise da situação abaixo proposta por GARCIA (2008).

Quando uma pessoa começa a aprender a dirigir, parece-lhe quase impossível controlar tudo ao mesmo tempo: o acelerador, a direção, o câmbio e a embreagem, o carro da frente, a guia, os espelhos (meu Deus, 3 espelhos!! Mas eu não tenho que olhar para a frente??). Depois de algum tempo, tudo isso lhe sai tão naturalmente que ainda é capaz de falar com o passageiro ao lado, tomar conta do filho no banco traseiro e, infringindo as regras de trânsito, comer um sanduíche.
Adquiriu esquemas que lhe permitiram, de certo modo, "automatizar" as suas atividades. Por outro lado, as situações que se lhe apresentam no trânsito nunca são iguais. A cada momento terá que enfrentar situações novas e algumas delas podem ser extremamente complexas. Atuar adequadamente em algumas delas pode ser a diferença entre morrer ou continuar vivo.
A competência implica uma mobilização dos conhecimentos que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos.







SAIBA MAIS





A utilização do termo competência vem do fim da idade média. Inicialmente encontrava-se restrito à linguagem jurídica e significava que determinada corte, tribunal ou indivíduo era “competente” para realizar um determinado julgamento. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado também para designar alguém capaz de pronunciar-se sobre certos temas. Com o tempo, começou-se a utilizar a expressão para qualificar pessoas capazes de realizar um trabalho bem feito. (ALONSO, 2008).

Joao Jose Saraiva da Fonseca

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1.4. Recursos cognitivos associados ao conceito de competência


Quais os contextos de uso dos recursos cognitivos na construção de competências?


Para haver competência, é preciso que existam um repertório de recursos cognitivos. Os recursos cognitivos a mobilizar no âmbito do desenvolvimento de uma competência envolvem, por exemplo:

- Atitudes (verbal, numérica, espacial)
- Habilidades (pensamento, liderança)
- Conhecimento (geral, profissional)
- Capacidades físicas (resistência, energia)
- Estilos (líder, gestor, trabalhador)
- Personalidade
- Valores, crenças e espiritualidade (justiça, eqüidade)
- Interesses (lidar com pessoas, lidar com factos)
- Capacidades inter-relacionais
- Capacidades cognitivas.

Contudo, a competência não reside simplesmente nesses recursos. Envolve a capacidade de usar esses recursos em uma situação e um contexto particulares. Uma pessoa só é competente, quando para além de saber como se deve fazer, também concretiza esse fazer de modo efetivo e adequado.

1.5. Competências associados ao docente

Quais as competências associadas ao docente?

No que diz respeito às competências para ensinar, da necessidade de organizar e dirigir situações de aprendizagem, o professor de acordo com Perrenoud (1980), para dar conta dos diversos aspectos que caracterizam a complexidade de seu trabalho, precisa desenvolver uma série de outras competências. São elas:
1 - organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2 - administrar a progressão das aprendizagens;
3 - conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4 - envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5 - trabalhar em equipe;
6 - participar da administração da escola;
7 - informar e envolver a comunidade;
8 - utilizar novas tecnologias;
9 - enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão;
10 - administrar sua própria formação contínua.


1.6. Competências associados ao ensino

Quais as competências associadas ao processo de ensino?

Joao Jose Saraiva da Fonseca

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Vasco Moretto apresenta um modelo baseado em 5 pilares, a partir do qual propõe-se um alargar das competências do âmbito do professor, para o ensino em geral.


O modelo de Vasco Moretto de competências para o ensino, afirma que o ensino deve contemplar:

1º pilar: Conteúdos conceituais.- Conteúdo, oportunizando a formação de gerentes de informações e não meros acumuladores de dados.

2º pilar: Habilidades - O saber fazer- Habilidade, oportunizando a compreensão de situações complexas, por intermédio do planejamento de uma abordagem, sua execução de uma estratégia visando o encontrar de uma solução e analisar criticamente a solução encontrada.

3º pilar: Linguagem adequada- Dominar a linguagem, oportunizando uma ligação entre o contexto do aluno, do professor e da comunidade.

4º pilar: Valores Culturais - Trabalhar valores culturais, oportunizando a análise, compreensão e respeitao dos valores éticos e a morais dos grupos sociais.

5º pilar : Administração emocional- Administrar o emocional, oportunizando as condições para um equilibrio emocional que motive a aprendizagem.

Trabalhar com uma proposta baseada em competências, deve constituir uma oportunidade de repensar o sentido educativo. Uma proposta de trabalho baseada em competências, influencia uma transformação da postura do docente face à educação e do processo de ensino. Inerente a esse processo de mudança, o desenho de currículo baseado em competências, cujos elementos básicos serão apresentados no momento seguinte.


Bibliografia:



ALONSO, RITA. Origem do conceito de competência. Disponível em: <http://www.umtoquedemotivacao.com/administracao/origem-do-conceito-de-competencia>. Acessado em: 05 nov. 2008.
FLEURY MT, FLEURY A. Construindo o Conceito de Competência. RAC, Edição Especial 2001: 183-196.
GARCIA, Lenise Aparecida Martins. Mas o que são, afinal, competências e habilidades? Disponível em: <http://www.geomundo.com.br/O%20que%20são%20competencias%20e%20habilidades.doc>. Acessado em: 05 nov. 2008.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SOUZA, Edna Guedes de. Gêneros textuais na perspectiva da educaçãoprofissional. Universidade Federal do Pernambuco: 2008.Disponível em:http://www.ufpe.br/pgletras/2008/teses/tese-edna-guedes.pdf. Acessado em: 24 ago. 2009.
TOBÓN TOBÓN, Sergio. Formación basada en competencias, pensamiento complejo, diseño curricular y didáctica. Bogotá: ECOE, 2004.


Autor: João José Saraiva da Fonseca

Postado em 24 de agosto de 2009 por Joao Jose Saraiva da Fonseca

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