Metodologia de Trabalho de Projecto nas TIC

O texto "Metodologia de Trabalho de Projecto nas TIC" é uma parte de um texto publicado na revista “Histórias de Aprendizagem das (com as) TIC” da Escola Superior de Educação de Setúbal.

O texto original é de Fernanda Ledesma e tem por titulo "Das TIC em contexto educativo às TIC no currículo"


Projecto na acepção da palavra significa planeamento de acções, desígnio, tenção, esboço, roteiro, intento e iniciativa.

Como menciona Leite (2000:2) “autores vários têm-se referido à ideia de projecto enquanto imagem antecipadora do caminho a seguir para conduzir a um estado de realidade. No entanto, projecto não é apenas intenção, é também acção, acção essa que deve trazer um valor acrescentado ao presente, a concretizar no futuro. Incorporando estas duas dimensões (projecto enquanto intenção e plano antecipador da acção e projecto enquanto acção)”.




Sendo um projecto uma ideia para uma transformação do real e a sua concretização,
ele deve conduzir a essa transformação (Leite, C., 1997: 182-183).

Ainda segundo a autora “a ideia de projecto curricular parte da crença de que uma escola de sucesso para todos e o desenvolvimento de aprendizagens significativas passam pela reconstrução do currículo nacional, de modo a ter em conta as situações e características dos contextos onde ele se vai realizar. Incorpora, portanto, a dimensão social da acção educativa”.

O professor é um interveniente activo na tomada de decisões, na concepção e no acompanhamento de projectos. A acção do professor exerce-se, não só ao nível do desenvolvimento do currículo, mas também a sua construção. O professor não deve ter um papel de simples consumidor do currículo, pode ter o papel de configurador de um currículo elaborado ou (re)elaborado de acordo com as realidades onde se vai desenvolver. Esta (co)construção prevê que se tenha em conta o contexto, o meio em que a escola se insere, as particularidades da escola, o espaço da sala de aula, a própria organização do espaço, os recursos disponíveis, por outro lado as especificidades do grupo de alunos, a faixa etária, as suas características pessoais, o seu ritmo de trabalho, o seu comportamento e o tempo de que o professor dispõe para implementar as actividades.

Trabalho de Projecto é um método que requer a participação de cada membro de um
grupo, segundo as suas capacidades, com o objectivo de realizar um trabalho conjunto, decidido, planificado e organizado de comum acordo.
Na Perspectiva de Castro, L. e Ricardo M. (1993:9). “O trabalho é orientado para a resolução de um problema. Este deve obedecer a certas características:
a) ser considerado importante e real para cada um dos participantes;
b) permitir aprendizagens novas;
c) ser de natureza tal que tenha que ser estudado/ resolvido tendo em conta as condições da sociedade em que os alunos vivem”.

Vários autores (Leite et all., 1989; Castro, L. e Ricardo M., 1992) consideram três etapas para a realização de um projecto, ainda que sem fronteiras rigorosamente definidas.
(i) Identificação /formulação do problema;
(ii) Pesquisa/produção
(iii) Apresentação/globalização/avaliação

Em suma, estas etapas desdobram-se em nove fases, como sintetiza a figura
seguinte.




Na primeira fase teremos de definir em conjunto com os alunos e de acordo com o Projecto Curricular de Turma, no caso do ensino básico, o problema geral a abordar e equacionar sobre os possíveis problemas parcelares, de modo a não perdermos o fio condutor do projecto, como um todo.
Refere Leite et al (1989:75) que “o problema escolhido pelo grupo é formulado, descrito até ao pormenor possível, estudado o seu enquadramento, levantados os condicionalismos possíveis…” em função da selecção dos problemas parcelares, deverão, então ser definidas e calendarizadas as actividades, identificadas as necessidades e recursos disponíveis. Nesta fase incluímos também a formação dos grupos, a divisão de tarefas, atribuição de papéis e responsabilidades a cada elemento do grupo. Na fase de pesquisa e produção os alunos devem recolher informação, através das várias fontes disponíveis: livros; revistas; jornais; internet; recolha de fotografia; recolha de imagem com o intuito de elaborar vídeos, fazer entrevistas, aplicar questionários, entre outras;
É conveniente contactar instituições para recolha de informação e estabelecer
protocolos e parcerias, caso façam sentido, de forma a envolver o meio envolvente e contextualizar o projecto, tornando-o o mais real possível.

Posteriormente tratam-se e organizam-se os dados recolhidos, fazendo também o
ponto da situação. Pois algumas vezes verificamos que é necessário recuar alguns passos, podendo este recuo ser apenas à fase de recolha de dados, porque os dados recolhidos, não respondem ao problema formulado ou até para reformular o próprio problema, porque entretanto surgiram dados interessantes que permitiram novas soluções pertinentes para a resolução do problema ou uma nova perspectiva do próprio problema. Quando concluímos a segunda fase teremos de preparar a terceira, na qual os alunos preparam a apresentação do trabalho, dependendo do formato e do público para o qual pretendem divulgar o seu projecto.

Por fim, temos a apresentação do projecto e avaliação final. Na avaliação final, algumas vezes pecamos por dar demasiada importância ao produto final, em vez que colocarmos a ênfase no processo.

O trabalho de projecto é uma alternativa pedagógica que valoriza o papel dos pequenos grupos/pares no processo de ensino e aprendizagem, promovendo a participação e cooperação em grupo, que conduzirão a alterações de valores e atitudes.

As Tecnologias da Informação e da Comunicação apresentam um potencial para tornar a educação mais significativa, desde que seja dada oportunidade aos alunos de se envolverem em actividades autênticas e/ou responder a desafios e problemas, que podem ser concretizados implementando esta metodologia.

A Metodologia de Trabalho de Projecto centra-se no aluno, e no intercâmbio verbal de
opiniões e ideias entre os elementos do grupo, com vista ao desenvolvimento de competências de comunicação oral e escrita. Ao aluno cabe a iniciativa da aprendizagem, a fundamentação do projecto em que se envolve. A interacção dos membros do grupo permite uma clarificação dos objectivos e uma maior criatividade na elaboração das sequências de trabalho. Nos saberes e competências adquiridos, aqueles que se consolidam mais firmemente e perduram são os que resultam da sua própria participação no processo de aprendizagem. Pode considerar-se um trabalho de descoberta de soluções para problemas específicos, uma vez que o essencial da aprendizagem não é fornecido, mas apenas lhes são dados indicadores. Um processo de descoberta, em que para resolver uma situação o aluno desenvolve uma pesquisa conducente à aquisição de um novo saber e na tentativa de melhor o preparar para a intervenção na vida activa. O aluno procede ao cruzamento do saber que já possuía, com o que acabou de adquirir, reorganizando o seu conjunto de informações.

O trabalho de projecto, ao possibilitar o envolvimento de todos os alunos de uma turma, ou, nalguns casos de várias turmas, vai ao encontro da ideia de que se aprende melhor fazendo e transformando.

Ao professor cabem, entre outras, as funções de coordenador, facilitador, incentivador
e amigo. O Trabalho de Projecto requer da parte dos professores uma grande sensibilidade e capacidade para apoiar e orientar os grupos de alunos a ultrapassar as dificuldades emergentes ao longo do percurso. Se o Trabalho de Projecto não for acompanhado e realizado de um modo sistemático e rigoroso, pode criar uma situação em que a liberdade relativa do mesmo, em vez de promover o ensino, se torna um obstáculo.

Assim, em nossa opinião e a par da evolução da sociedade de informação, as TIC terão de ser integradas cada vez mais cedo no percurso escolar, através de propostas criativas que promovam a pesquisa, a construção colaborativa e a comunicação.

Postado em 9 de agosto de 2009 por Joao Jose Saraiva da Fonseca

Comentários

Postagens mais visitadas

O que é Planejamento Participativo?

A PRÁTICA EDUCATIVA

A relação da Escola com a Comunidade: uma análise do partenariado necessário.

A construção do conhecimento na visão de Paulo Freire

Mapas conceituais